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Kamen Rider Ichigo


Nas masmorras da torre #02

Kamen rider ichigo 1971


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Observação : este não é tecnicamente o verdadeiro Nas masmorras da torre 2,pensando nisso,chego a conclusão que mesmo que a "massa de ideias" acerca de certas obras seja realmente interessante,nem todas as obras vistas merecem necessariamente um "Nas masmorras da torre",talvez apenas aquelas com quem não poderia aprofundar uma discussão ?

Obervação 2: Esse texto originalmente era dedicado a série de 1971, mas por eu ter concluído o manga de kamen rider ichigo primeiro, sera dele que o texto se tratara (mesmo que, no fim das contas certos pontos da analise se equivalerem para ambos).

Kamen rider 1971,ou "Kamen rider ichigo" é o inicio de uma franquia de séries que claramente não mantém a essência do original,essência essa que torna Kamen rider ichigo algo realmente interessante,em meio aos "(d)efeitos especias".

história


A historia da luta do ciborgue que se rebela contra uma organização maligna que quer colocar o mundo em uma grande ditadura totalitária em que a liberdade de pensamento seja destruída através da lavagem cerebral é uma proposta um tanto quanto datada, mas levando em consideração a época em que foi feita, podemos relevar e tentar como apreciadores entender o que isso significa para a historia como um todo. Kamen rider ichigo é um herói clássico, com as suas convicções e o seu senso de justiça construído de uma maneira sólida, se impondo diante de seus terríveis inimigos com o peito estufado e com palavras apaixonadas e idealizadas, algo que me trouxe uma sensação de estar lendo algo da época de ouro dos quadrinhos de super heróis americanos, em que esse tipo de texto era mais comum. Mas sinto que um detalhe aqui caminha de forma diferente em comparação a outros heróis com esse arquétipo, e até mesmo o motivo pelo qual tenho tanta afeição a figura do kamen rider como um conceito, é o fato que kamen rider é um herói trágico.

TOKU-TALK: I Want To Live Like Kamen (Rider) People - opr

Sua jornada para enfrentar os seus inimigos é algo que o enche de angustia, de saber que sua humanidade foi perdida e que ele esta sozinho em sua batalha. Um ponto positivo para a historia com certeza, pois isso cria a sensação de que o que torna rider um herói não são os seus poderes, sua fantasia colorida, ou a sua moto, a ciclone, mas sim a sua atitude de mesmo sendo uma criatura bizarra e temida, ele não se deixar desistir e continua a lutar por aquilo que é o certo (algo que até nos remete a um outro período dos quadrinhos de super heróis americanos, a era de prata, que trouxe os heróis falhos de stan lee como o homem aranha ou o Hulk). Mas a escrita de Shotaro Ishinomori infelizmente peca nesse quesito, já que em praticamente todos os capítulos estrelados pelo Kamen Rider original, Takeshi Hongo, vemos a mesma cena de lamento sobre a sua existência ou um monologo sobre a ameaça que a shocker representa para a humanidade, tornando por vezes enfadonha a leitura de um capitulo nessas cenas. Mas, se com Hongo temos cenas dessa forma, o que temos com o seu "sucessor" hayato ichimonji? bem, isso discutirei mais a frente, mas devo dizer que isso me deixou pessoalmente surpreso, pois em comparação a outros personagens, ichimonji tenta ter uma personalidade.

(série) A história sofre de alguns problemas de roteiro, certas coisas acontecem de forma muito conveniente, com personagens e situações seguindo apenas para mover de maneira artificial o plot, fora isso ela corre na formula do monstro da semana que quer ferir takeshi e um bando de desocupados, e assim ele parte para um plano nada mirabolante que resulta na morte do monstro com muitos (d)efeitos especias numa base da Shocker e Takeshi partindo dali de maneira dramática.

Os enredos dos capítulos acabam por sofrer do mesmo destino da série, com a formula do monstro da semana, mas diferente da série, existe uma sensação geral de que os esforços da shocker contra o kamen rider vão com o passar do tempo se adaptando aos feitos do herói, com os vilões reconhecendo a sua força e buscando novas estratégias para derrota-lo (um bom exemplo disso é o incrível capitulo em que ocorre a batalha entre Hongo e os 12 shocker riders, se não podemos derrota-lo com um monstro novo, então por que não simplesmente clona-lo e mata-lo com a sua própria força? é simples, mas bem decidido quando se fala em um quadrinho com essa fórmula :v).


kamen rider manga | Tumblr





ritmo e arte sequencial


O ponto mais positivo do manga com toda certeza é a sua arte, shotaro ishinomori tinha uma habilidade na criação de cenas de ação como poucos de sua época eram capazes de realizar, com linhas dinâmicas e transição de cenas que fluem muito bem durante a leitura, eu mesmo não tive problema algum com como os quadros se comportavam ou como a ação se desenrolava em momentos complexos. O que também chama a atenção é que apesar de seus traços poderem ser considerados "datados" (visto que seus personagens hoje seriam vistos como muito cartunescos para uma série de ação) eles possuem texturas e hachuras que nós não vemos acontecendo em mangas modernos, já que é algo que leva tempo pra se fazer e cria uma sensação unica no visual. Um exemplo simples porém muito competente do que quero dizer pode ser visto logo no primeiro capitulo:





Esses quadros exemplificam bem oque foi dito, uma excelente texturização, sensação de impacto e movimento, além de uma transição bem elaborada entre a roda da moto e as luzes do laboratório, algo que até remete ao que seria feito em um filme ou série de tv, uma verdadeira característica de shotaro ishinomori através de sua obra.


personagens


Um outro ponto negativo porém, é a construção de personagens. Os personagens do manga são extremamente rasos e servem apenas como uma espécie de catapulta para o protagonista da vez, com alguns deles até mesmo desaparecendo em meio a historia e talvez vindo a retornar uma vez ou outra, (mais um ponto negativo, em minha experiencia de leitura achei algum deles confusos de identificar) então mesmo que o autor esteja tentando nos comunicar a respeito de algo com esses personagens, eles acabam tendo um impacto muito menor do que deveriam em enviar esta mensagem. sinto que parte disso vem da ideia de manter o manga como uma série dinâmica, com uma arte e um roteiro prezando a leitura rápida, por conta disso, vou me focar esse tópico aos protagonistas da série, Takeshi Hongo e Hayato Ichimonji.



Começando por takeshi, ele é um personagem como já dito anteriormente baseado num arquétipo do herói trágico, com um senso de justiça e revolta contra o mal que é acompanhado por uma certa melancolia, mas indo mais ao seu background, podemos notar que ele é um personagem ala batman, tendo uma mansão, um laboratório secreto e até mesmo um mordomo. Por conta de eu poder ver outras série de kamen rider eu senti que esse tom fez ele ficar um tanto quanto raso, o que não ocorre com hayato. Talvez se a historia prezasse menos por dinâmica e não caísse no erro de tornar os lamentos de Hongo enfadonhos, ele pudesse ser um personagem mais interessante. Mais desenvolvido, pois tem uma historia de vida que é contada ao logo do enredo, uma convicção que as vezes pode o colocar em situações perigosas pela sua falta de habilidade, e um tom mais leve com momentos de humor, este é Hayato ichimonji, o segundo protagonista, ou o "Kamen rider nigo". Hayato me deu uma certa sensação de "quadrinho do homem aranha" quando estive lendo, e esse tom mais leve me fez gostar mais da minha leitura, acho que isso é mais um gosto pessoal meu, que prezo por historias mais leves e com alivio cômico. Esses detalhes o fazem se distanciar de hongo, e na minha opinião, o colocam como um personagem mais bem escrito. Um ponto que achei um tanto quanto estranho na narrativa, é que desde o primeiro capitulo é estabelecido uma relação de Hongo com uma certa personagem (tentarei evitar spoilers nessa parte) mas o desfecho dessa conexão acabou ficando solto, sem uma conclusão infelizmente.

a alma

Essa é uma parte que me deixou genuinamente surpreso. Antes de explicar a respeito, gostaria de tentar  introduzir ao leitor o conceito que eu costumo chamar de "alma da historia", ele é simplesmente o tema dela, eu intitulo dessa forma por interpretar o escopo do enredo e desenvolvimento de personagens como o seu corpo, e a "alma" então, seria o que ela tem a dizer aos espectadores. Quando vi pela primeira vez Kamen rider J, eu fiquei intrigado pelo fato de que o filme tentava trazer uma reflexão sobre a questão ambiental, com o kamen rider sendo representado como uma força da natureza. O filme não se aprofundava nisso e nem precisava, mas aqui em kamen rider ichigo fica mais nítido essa preocupação com a destruição do meio ambiente e de certa forma com a destruição "moral' do japão.

Esse no entanto é um assunto que não compreendi completamente, e deixo para talvez uma publicação futura a respeito, o que é a a decadência moral e social descrita ao longo do manga (principalmente no capitulo 7) é algo que eu não posso compreender sem entender a realidade social do japão dos anos 60 e 70, fico devendo nessa. Temos ainda uma critica aos políticos e certas atitudes do primeiro ministro, mas isso também me passou de forma vaga durante a leitura por minha ignorância no assunto. prosseguindo com os temas de kamen rider ichigo, também é demonstrado aqui algo que me remeteu a talvez o mais icônico tokusatsu já feito, Godzilla de 1954, que é a presente critica do uso que a humanidade tem dado a Ciência, nos trazendo a um final de manga triste e reflexivo, mas isto sera melhor desenvolvido no próximo tópico.

final 


Esse tópico incluirá spoilers, então para aqueles que tem interesse em ler o manga, sugiro que pulem esta sessão para a conclusão. O final como comentado anteriormente, é triste e um tanto quanto pessimista. Takeshi Hongo para poder enfrentar a shocker mais uma vez, abdicou de sua humanidade se tornando uma maquina (quase) completa, e ichimonji descobrindo que o kamen rider talvez seja incapaz de deter a shocker definitivamente, pois no fim não é sobre ser o ciborgue mais forte ou usar uma fantasia colorida, mas sim sobre a decisão das pessoas sobre suas próprias convicções e ideais. Afinal de contas, o que a shocker fez foi apenas manipular uma tecnologia que o governo já havia desenvolvido, apenas trocando o seu proposito de uso, e o governo havia sido eleito pela própria população. O ultimo painel é ichimonji ao lado de sua companheira lamentando a morte do irmão mais novo dela, que morreu em decorrência de leucemia causada pelos ataques nucleares do fim da segunda guerra mundial, resgatando então a reflexão a respeito de como a humanidade usa a ciência.


 Em conclusão é isso, espero que tenham gostado e nos vemos na próxima publicação!

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